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sábado, agosto 2, 2025

Alagoas celebra primeiro Dia Nacional do Maracatu e resgata tradição silenciada há quase um século

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Alagoas vive um momento histórico nesta sexta-feira (1º), ao comemorar, pela primeira vez, o Dia Nacional do Maracatu, uma conquista que simboliza o renascimento de uma tradição afro-brasileira silenciada desde o episódio do Quebra de Xangô, em 1912. A data foi oficializada em 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e marca a retomada de uma manifestação cultural profundamente ligada à identidade negra no estado.

A secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, destacou a importância da celebração como um gesto de justiça cultural. “O maracatu é uma expressão ancestral que resistiu ao apagamento histórico. Reconhecer essa tradição é fortalecer nossa memória coletiva e valorizar as matrizes africanas que moldam a identidade alagoana”, afirmou a gestora.

A reocupação dos espaços públicos pela cultura do maracatu em Alagoas teve início em 2007, quando o percussionista Wilson Santos realizou uma oficina no Centro de Belas Artes de Alagoas (Cenarte). Deste encontro, nasceu o Maracatu Baque Alagoano, primeiro grupo formado após quase um século de invisibilidade. Desde então, pelo menos dez grupos surgiram, como o coletivo feminino Yá Dandara e o Sankofa, que mescla maracatu com outras expressões afro-brasileiras.

Para Wilson Santos, o Dia Nacional do Maracatu é mais do que uma celebração: “É a retomada de uma memória que nos foi calada. O som dos tambores nas ruas de Jaraguá representa a força da ancestralidade que insiste em se fazer ouvir”, declarou. A mestre do Maracatu Yá Dandara, Dani Lins, reforçou a importância do protagonismo feminino neste novo ciclo, afirmando que o grupo nasceu como um espaço onde as mulheres lideram e reconstroem a tradição com força e coragem.

Historicamente, o maracatu possui raízes documentadas em Alagoas desde o período colonial, sendo uma das expressões ligadas aos terreiros de Xangô e às festas populares. No entanto, o violento Quebra de Xangô, em 1912, desarticulou as manifestações de matriz africana, impondo um longo período de silenciamento. De acordo com o Consultor Cultural do Baque Alagoano, Kiko Cavalcanti, a celebração desta data é uma reparação simbólica. “Estamos celebrando a vitória da resistência sobre o silenciamento, afirmando que Alagoas sempre foi terra de maracatu”, afirmou.

Com oficinas, apresentações e ações culturais, o Maracatu Baque Alagoano se consolidou como símbolo de um movimento de reexistência e de fortalecimento da identidade negra no estado. O reconhecimento oficial do Dia Nacional do Maracatu representa não apenas um marco cultural, mas também uma afirmação política de resistência e valorização das tradições afro-brasileiras.

Hoje, os tambores ecoam mais forte, carregando consigo o som da memória, da ancestralidade e da dignidade, reafirmando que a cultura popular segue viva e pulsante nas ruas de Alagoas.

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